quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A ATENAS DO SUL DE MINAS


“Refulgiu pelo ouro da terra e pela cultura e pelo o civismo de seus filhos"

Alfredo de Vilhena Valladão

A analise das práticas culturais da elite Campanhense, já sem os recursos do ouro, evidencia e justifica a gênese da metáfora "ATENAS DO SUL DE MINAS”, ao demonstrar Campanha como a cidade privilegiada por políticas públicas de educação, em relação aos demais municípios de Minas Gerais.

Com efeito, um olhar atento e imparcial sobre a cidade da Campanha, desde os tempos do Arraial de São Cipriano, nos coloca diante de uma sociedade preocupada com o sistema educacional, refletido no anseio de seus filhos pelo aprimoramento do ensino.

A extinção da escravatura no Brasil, e a sua repercussão na cidade da Campanha, como de resto, em todo país, causou um forte impacto na vida social e econômica da nação, considerando que a economia do país se sustentava na agricultura. Para quase todos os lavradores da Vila da Campanha, foi um duro golpe. Soma-se a isto a emancipação de vilas que pertenciam à jurisdição da cidade da Campanha, que poderia levá-la a uma grave crise financeira, se não fosse a presença de cidadãos campanhenses na política nacional e no fortalecimento de instâncias ligadas à religião Católica. A cidade pôde se manter muito ativa durante todo o século XIX, principalmente através da produção agrícola e pecuária, além do comércio com o Rio de Janeiro e com São Paulo. O seu território era vastíssimo e suas águas minerais eram procuradas por diversas personalidades para os diversos tipos de doenças.

Além do mais, e principalmente, Campanha tinha uma excelente base educacional que lhe permitiu filhos ilustres tanto no Parlamento como nos executivos estadual e federal.

No ano de 1831, é possível saber da instalação de uma Escola de Ensino Mútuo para Primeiras Letras em Campanha, com mais de 100 alunos.

O método mútuo ou Lancasteriano (método inglês posto em pratica na Índia) difundiu-se no Brasil e temos noticia de que foi de imediato posto em prática na cidade da Campanha, que já previa a instrução pública como dever do Estado, com a finalidade de contemplar um número maior de alunos. Além disso, o método combatia os castigos físicos, comuns à época.

Um dos alunos dessa época na escola de primeira letras, como era chamada, foi o futuro senador Evaristo da Veiga. Os alunos, cujos pais tinham recursos, compravam os livros e os meninos pobres recebiam o material da Câmara ou da Província.

No ano de 1840, o ensino mútuo já estava quase abandonado nas escolas mineiras, seria substituído pelo método simultâneo. A Assembléia Mineira subvencionou a ida de dois professores à França para aprender esse novo método.

Nesse mesmo ano de 1840, um Delegado de Ensino à Vila da Campanha, enviado pelo então Presidente do Estado, Bernardo Jacinto da Veiga, informava em seu relatório que o ensino de Latim, Francês e Filosofia, na cidade da Campanha, era muito bem ministrado, sobrepondo-se aos demais municípios mineiros, e o adiantamento dos alunos era notório e significativo. Nesse mesmo relatório, o Delegado manifesta a necessidade de melhores salários para os professores.

Em 1843, no ensino público secundário em Campanha, a cadeira de Latim era ministrada pelo o padre mestre João Damasceno. Conforme informes da época, o padre João era tido como um grande latinista, e os alunos o tinham como uma espécie de oráculo.

O ensino do latim, segundo depoimento de vários Campanhenses, foi fundamental para muitos daqueles que optaram pelo estudo das ciências jurídicas.

Um fato que deve ser registrado pelo seu aspecto inédito e avançado, considerando a época, em pleno século XIX, é o jornal “O Sexo Feminino”.

O Sexo Feminino é o nome do periódico de propriedade da jornalista da Campanhense Francisca Senhorinha da Motta Diniz, que também editava e redigia o jornal. O primeiro ano de publicação do jornal (1873-1874) foi feito aqui na nossa cidade da Campanha.

Em 1875, Senhorinha Diniz mudou-se para o Rio de Janeiro com uma proposta de trabalho para lecionar na Côrte. A escritora continuou com as edições de O Sexo Feminino, mesmo com a mudança para o Rio. Tratava-se de um jornal direcionado ao público feminino, fato observado logo na capa do veículo, onde se lia: "Especialmente dedicado aos interesses da mulher".

A jornalista escrevia para um público mais intelectualizado e instruído, fato que demonstra o nível cultural da sociedade Campanhense.

Em 15 de novembro de 1874 o editorial do jornal assim expressava:"É tempo de darmos o grito de nossa independência, de nossa emancipação do jugo ferrenho em que até agora vivido, proclamando alto e bem alto a nossa capacidade para certos empregos públicos, e muito principalmente para o magistério onde daremos a mocidade de ambos os sexos educação e instrução".

No ano de 1893, depois de ter cursado a Escola Normal de Campanha e freqüentado o Seminário de Mariana e o famoso Colégio do Caraça, o grande professor Jonas Olinto, "pedagogo de cultura enciclopédica", jornalista e poeta, fundou e dirigiu o seu Externato, e sozinho lecionava as seguintes matérias: Português, Francês, Inglês, Matemática, Geografia e História. Passaram pelos os bancos desse famoso Educandário de ensino primário e secundário várias gerações de estudantes, durante 30 anos.

Interessante observar que, segundo o relato de Francisco de Paula Ferreira de Rezende, fica evidente que as experiências educacionais na Vila da Campanha, particularmente no ensino primário e secundário, não era feitas somente através da educação formal, mas de toda cultura que cerca o indivíduo, fato revelador do elevado nível cultural da Sociedade Campanhense.

O anseio dessa sociedade pelo aprendizado, pelo ensino e pela elevação do nível cultural da cidade se manifesta quando essa mesma sociedade se mobiliza pela criação de um colégio, através de seus mais ilustres representantes que integram o cenário político-administrativo não só do Estado como também do País, e do Emérito Sacerdote, Padre Natuzzi, coadjuvado pelo ilustre campanhense Monsenhor João de Almeira Ferrão, mais tarde primeiro bispo da recém criada Diocese da Campanha e pelos ilustres deputados, Joaquim Leonel de Rezende Filho.

Gabriel Valadão e João Bráulio Moinhos de Vilhena Júnior iniciaram os entendimentos junto à Mere Angelina, que chegara ao Brasil em 1897, nomeada superiora do Colégio de Sion de Petrópolis, com o objetivo de criar em nossa cidade o Colégio de Sion, administrado pelas irmãs dessa recente ordem das Irmãs de Sion, fundada na França, para criação de colégios que ofereciam educação rígida e esmerada para moças. O fato de a França, à época, ditar o modelo de educação, levou a sociedade Campanhense a se interessar pela vinda da irmãs francesas, com intuito de aprimorar o sistema educacional, com oferta do ensino feminino e confessional na cidade e na região Sul Mineira.

Convidada a visitar Campanha, Mère Angelina, acompanhada de sua secretária, irmã Joaquina, chegam à cidade e, tendo dela a melhor impressão, decidem de imediato pela escolha do local para instalação do colégio. Foi escolhido o imóvel que pertencera ao Senador Evaristo da Veiga, no mesmo local onde se encontra as soberbas instalações do Colégio de Sion.

O Colégio, que funcionou entre 1904 a 1965, foi responsável por educar na forma de internato e semi-externato as meninas da elite Sul Mineira (Meninas de Sion), como eram conhecidas e também meninas pobres da região (Martinhas). Manteve uma divisão entre estas duas categorias, já que o tratamento era diferenciado. Preparava as primeiras para exercer papéis de liderança familiar, como boas esposas e mães, como também para exercer a profissão de professoras. Já as meninas pobres eram preparadas essencialmente para o trabalho doméstico.

O Colégio instala-se na cidade como uma forma de fortalecer e ampliar o perímetro de influência da Igreja Católica, com uma nova roupagem e atendendo aos anseios do desenvolvimento do capitalismo.

No ano de 1906, a nova casa de Sion inicia as suas atividades em nossa cidade. Foram muitas as alunas da Campanha e da região Sul Mineira que se matricularam na nova instituição. Citamos aqui algumas Campanhenses do período de 1906 a 1920: Maria das Dores Paiva de Vilhena, Maria Amélia Veiga de Oliveira, Maria do Rosário Paiva de Vilhena, essas três ingressaram na ordem, tornando-se Irmãs de Sion. Maria da Conceição de Vilhena Lisboa, Hilda de Oliveira Ferreira, Ordália de Oliveira Ferreira, Laura Bressane de Azevedo, Dora Ayres, Edite Souza e Silva, Alvarina Silva, entre outras.

Em 1906, Charles Noguères, cidadão francês, junto com o Cônego Joaquim Timóteo Soares, sob a inspiração do Monsenhor João de Almeida Ferrão, fundam o Ginásio Santo Antônio de ensino secundário para rapazes.

Em 21 de abril de 1908, foi instalado o Grupo Escolar da Campanha, denominado Zoroastro de Oliveira. Ao longo de sua existência, o Grupo foi dirigido por importantes personalidades de nossa cidade, como Dr. Júlio Pereira da Veiga, Dona Matilde Mariano, Dr. José Braz Cezarino, Dr. Serafim Maria Paiva de Vilhena, Prof. Júlio Bueno, Dona Maria Conceição de Vilhena Lisboa

Em 1909, Dom Ferrão funda o Seminário Nossa Senhora da Dores, tendo como o seu primeiro Reitor, Monsenhor Joaquim Soares.

Em 1910, sob sábia orientação desse extraordinário Bispo, Dom João de Almeida Ferrão, foi criado o Ginásio Diocesano São João que, em sua longa e gloriosa vida de mais meio século, formou várias gerações de jovens, preparando-os para a vida. Muitos daqueles que passaram por essa instituição se tornaram profissionais capacitados e de renome, nos vários segmentos de suas atividades profissionais.

Em 1915, inaugura-se em Campanha o externato para cursos primário e secundário para rapazes, sob a orientação do Professor Raul Ramos da Costa, auxiliado pelos prefessores Diaulas José de Lemos e Rubens Rezende.

Em 1929, ocorre o restabelecimento da Escola Normal da Campanha, sendo nomeado como seu primeiro Diretor o Prof. Juscelino Teodoro de Aguiar Júnior, que a instalou, tendo sido, em seguida, sucedido pelo Prof. Francisco de Melo Franco.

No ano de 1964, instala-se na cidade o seu segundo Grupo Escolar, que recebeu o nome de Dom Inocêncio, em homenagem ao segundo Bispo da Campanha.

Por último, assinalamos, como merecido destaque, a criação de ensino superior que tanto se orgulha Campanha. Uma instituição radiante e vitoriosa, graças ao idealismo do Campanhense de nobre origem, o Desembargador e Comendador Manoel Maria Paiva de Vilhena, uma bandeira de civismo e de grandeza cultural.

As faculdades Integradas Paiva de Vilhena, são, sem dúvida alguma, a culminância de um processo que, possivelmente, estivesse em gestação no seio da sociedade Campanhense e nasce pelo o idealismo de um obstinado, legítimo representante dessa sociedade, como afirmação de que Campanha sempre foi e será o centro irradiador de cultura e o viveiro dos melhores troncos que povoaram esse abençoado solo Sul Mineiro. Não à toa, ela foi cognominada "a Atenas do Sul

Tarcísio Brandão de Vilhena
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Alfredo de Vilhena Valladão
Antonio Casadei
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